Em conversa com jornalistas estrangeiros, vice-presidente culpa "visão de esquerda" internacional por má fama de política ambiental do governo Bolsonaro. © Jodson Alves/Agencia EFE/imago images Em coletiva à imprensa internacional, vice-presidente Hamilton Mourão fez diversas afirmativas que não coincidem com os fatos conhecidos A poucos dias da 26º Conferência do Clima (COP26), a primeira a ser realizada após o início da pandemia e que reunirá líderes globais em Glasgow, na Escócia, o governo brasileiro tenta convencer a imprensa internacional de que o país está comprometido com uma agenda amb
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BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) desautorizou uma intervenção militar na Amazônia que seu vice, Hamilton Mourão, anunciou e tratou como existente durante 45 dias.
Militares atuaram na região, apesar de inexistir um decreto presidencial respaldando uma operação de GLO (Garantia da Lei e da Ordem).
A Vice-Presidência e o Ministério da Defesa afirmam que a atuação das Forças Armadas se restringiu a ações de logística e inteligência, sem relação com GLO.
Mourão preside o Conselho Nacional da Amazônia Legal. O carro-chefe do colegiado até agora foi a execução de operações de GLO, em que as Forças são convocadas a atuar em áreas que fogem de sua atuação original de defesa.
Durante o “Jornal Nacional” desta última segunda-feira (25), William Bonner desmentiu o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) mais uma vez. O apresentador citou como “falsa e absurda” a associação do presidente da vacina contra a Covid-19 e a Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (AIDS). ++ Facebook tira do ar live de Bolsonaro com fake news sobre relação […]++ Facebook tira do ar live de Bolsonaro com fake news sobre relação da vacina com a Aids
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No caso da Amazônia, os militares passaram a se sobrepor a agentes do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) na repressão a crimes ambientais em áreas conservadas.
A militarização do combate a ilícitos ambientais durou 16 dos 34 meses do governo Bolsonaro, custou R$ 550 milhões aos cofres públicos e não derrubou os índices de desmatamento da Amazônia, como a Folha mostrou em reportagem publicada no dia 24 de outubro.
Ao todo, foram três GLOs, cujos decretos presidenciais deram amparo legal a três operações de intervenção militar: Verde Brasil, Verde Brasil 2 e Samaúma.
Mourão anunciou e tratou como existente uma segunda fase da Samaúma, mas Bolsonaro não editou um decreto para prorrogá-la, como a Folha constatou.
Mourão diz que Bolsonaro não vai a COP26 para evitar críticasBRASÍLIA (Reuters) - O vice-presidente Hamilton Mourão admitiu nesta sexta-feira que o presidente Jair Bolsonaro não irá ao encontro de líderes da COP26, conferência sobre mudanças climáticas, por causa das críticas que receberia em relação à Amazônia.
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Para prorrogar a Verde Brasil 2, por exemplo, que antecedeu a Samaúma e durou quase um ano, o presidente assinou novo decreto estabelecendo a extensão do prazo.
Na reunião do Conselho da Amazônia realizada em 24 de agosto, Mourão afirmou que "conversou com o ministro da Defesa [Walter Braga Netto] para que estenda a GLO [da Operação Samaúma], com os recursos que restaram, de modo que, quando os nossos negociadores chegarem a Glasgow para a COP26, em novembro, se tenham números positivos".
Ao deixar a reunião, o vice-presidente deu uma entrevista de 20 minutos à imprensa. Ele disse: "Eu posso falar de antemão que a GLO vai ser estendida. Conversei com o ministro da Defesa hoje. O recurso inicialmente solicitado demorou a chegar, sobrou recurso, então nós temos condições de estender por mais 45 dias, que é um período crítico de queimadas na Amazônia".
O prazo final da GLO que garantia a Samaúma, previsto em decreto de Bolsonaro, era 31 de agosto, uma semana depois da reunião do Conselho da Amazônia.
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente em exercício, Hamilton Mourão (PRTB), disse nesta sexta-feira (29) que Jair Bolsonaro (sem partido) não participará da COP26, conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, para evitar levar "pedradas". O evento que reúne lideranças mundiais começa neste final de semana e vai até 12 de novembro, em Glasgow (Reino Unido). Mourão assumiu interinamente a presidência da República, porque Bolsonaro embarcou na quinta-feira para a reunião do G20, em Roma, que ocorre também neste final de semana.
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A operação teve início em 28 de junho. O presidente não assinou novo decreto para estender a GLO, como Mourão disse que ocorreria.
Passados os 45 dias citados, o vice-presidente foi questionado por jornalistas sobre o que seria uma nova prorrogação da intervenção militar na Amazônia. O questionamento ocorreu no dia 15 de outubro, na chegada de Mourão ao Palácio do Planalto, como usualmente é feito.
"A GLO da Operação Samaúma termina hoje?", questionou um jornalista. "Termina", respondeu o vice-presidente.
"E vão renovar?", quis saber o repórter. "Não, sem renovação da GLO. O que foi acertado: as Forças Armadas continuam a prestar apoio logístico, de comunicações e de inteligência", completou Mourão.
Na verdade, a GLO já tinha ficado pelo caminho a partir de 1º de setembro.
Segundo o vice-presidente, o Ministério do Meio Ambiente teve orçamento duplicado e "repassa o recurso necessário para o Ministério da Defesa". "Coordenação feita dentro do grupo gestor e pronto, segue o baile."
O próprio Mourão, porém, já havia dito em um programa de rádio que mantém em um veículo oficial do governo que a GLO não havia sido estendida. A Operação Samaúma custou R$ 50 milhões aos cofres públicos, conforme o vice-presidente.
Cientista afirma que o país chega à COP26 como uma grande preocupação global e que precisa apresentar metas mais ambiciosas caso queira recuperar credibilidadeNobre considera insuficiente a proposta do vice-presidente Hamilton Mourão, presidente do Conselho da Amazônia, de antecipar em dois ou três anos o fim do desmatamento ilegal —antes previsto para 2030. Até porque, explica Nobre, existe uma “indústria da legalização do crime ambiental”, isto é, o desmatamento ilegal pode, amanhã, acaba sendo legalizado pelo Congresso, como ocorreu outras vezes.
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Em nota, a Vice-Presidência da República afirmou que "efetivamente não houve prorrogação da GLO, exclusivamente por dificuldades de alocação de recursos financeiros específicos para tal".
"As operações que ocorreram, e ainda em curso, estão sob o contexto do Plano Amazônia, onde órgãos de proteção ambiental e combate a ilícitos ambientais atuam em suas respectivas áreas de responsabilidade com apoio, se necessário, de elementos das Forças Armadas em inteligência, logística e segurança", disse a nota.
O Ministério da Defesa, em nota, também confirmou que "não houve qualquer prorrogação" do prazo do decreto que garantiu a intervenção militar por meio de uma GLO.
"Não houve nenhuma ação, no contexto da Operação Samaúma, após o encerramento do prazo legal estabelecido pelo decreto", afirmou.
"As Forças Armadas prestam, frequentemente, apoio logístico, de inteligência e de comunicações a diversos órgãos federais, em especial agências de proteção ambiental, nos termos da lei complementar nº 97, de 9 de junho de 1999."
A ata detalhada da última reunião do Conselho da Amazônia registra o apelo de Mourão para que a GLO prosseguisse, de forma a assegurar "números positivos" na COP26 e demonstrar "claramente o comprometimento do Estado brasileiro (governo Bolsonaro) de resolver esse problema".
O Brasil é o quarto maior emissor de gás carbônico do mundo, segundo um estudo recente. E a Amazônia pode, sozinha, colocar por terra as metas de controle do aquecimento global, se continuar a ser desmatada no ritmo atual.Isso não se deve apenas à importância singular da Amazônia no equilíbrio do clima. O Brasil é, atualmente, o sexto maior emissor de gases do efeito estufa. E um estudo recente publicado pela Carbon Brief, revista especializada em estudos sobre mudanças climáticas, mostrou que o Brasil é o quarto maior emissor histórico de gás carbônico em números absolutos — atrás apenas de EUA, China e Rússia.
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A Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas, a COP26, é realizada em Glasgow, no Reino Unido.
Mourão, que preside o Conselho Nacional da Amazônia Legal, foi excluído da possibilidade de chefiar a delegação brasileira na COP26, apesar de ter manifestado intenção nesse sentido.
O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, lidera os trabalhos. Ele ainda não viajou a Glasgow.
Na reunião do Conselho da Amazônia, o vice-presidente antecipou a evolução do dado consolidado do desmatamento da Amazônia, sistematizado pelo Prodes (Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite), do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
O desmatamento entre agosto de 2020 e julho de 2021 teria sido 5% menor do que o registrado no ciclo anterior, segundo Mourão.
A perda de vegetação entre agosto de 2019 e julho de 2020, porém, foi de 10.851 km² de floresta, 7,1% a mais do que no ciclo anterior. Foi um recorde em 12 anos, conforme os dados do Inpe.
O mês seguinte ao fim da Samaúma, setembro, registrou um desmatamento de 1.224 km², uma área do tamanho da cidade do Rio de Janeiro, a pior marca para setembro em dez anos, segundo o sistema de alerta do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia).
O acumulado de janeiro a setembro, período que envolve a Verde Brasil 2 e a Samaúma, chegou a 8.939 km², 39% a mais que no mesmo período em 2020 e o pior índice em dez anos, conforme os dados do Imazon.
Ministro do Meio Ambiente cobra mais dinheiro de países ricos, mas diz que negociações sobre Fundo Amazônia seguem paradas .
Fundo que conta com US$ 2,9 bilhões doados pela Noruega e Alemanha, mas está travado porque os dois países discordam de mudanças feitas pelo então ministro Ricardo Salles no conselho que administra os recursos.Abastecido principalmente pela Noruega (93,8%) e Alemanha (5,7%), o fundo conta atualmente com US$ 2,9 bilhões para ações de prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento na Amazônia brasileira. Mas doadores suspenderam a aplicação do dinheiro em 2019, quando o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, tentou reduzir o papel da sociedade civil no conselho que administra os repasses.